Foto: Clarice Rocha |
Plantar melancia consorciada à mandioca garante segurança financeira
ao pequeno produtor, com incremento de 65% na renda. É o que mostram
resultados de uma pesquisa realizada pela Embrapa Roraima
em Boa Vista, entre 2013 e 2016. No experimento, a colheita da melancia
foi feita a partir de 60 dias da semeadura, se estendendo por mais dez
dias, com produtividade média dentro do esperado: 38.615 quilos por
hectare de frutos. Já a colheita da macaxeira se deu próxima aos 300
dias, com uma produtividade média de 20 mil quilos por hectare (média de
oito quilos por planta). Nos três anos da pesquisa, o sistema
consorciado obteve uma receita líquida de R$ 16.264,50 por hectare, e a
mandioca foi responsável por R$ 6.430,00 dessa renda.
A pesquisa
mostrou que o consórcio da melancia com a mandioca, além de diversificar
a produção, melhora o uso da terra pela agricultura familiar, já que a
raiz acaba se beneficiando da adubação e da irrigação que já está sendo
feita para a cultura do fruto, o qual não sofre nenhuma interferência
negativa no seu desenvolvimento por causa do consórcio.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Roberto
Dantas, que conduziu os experimentos em Roraima, a integração entre as
culturas traz segurança ao pequeno produtor e diminui o risco de perdas.
Isso porque a exploração da melancia ocorre principalmente durante a
época de estiagem, que no Brasil se estende de setembro a abril. “Nesse
período, há um favorecimento ao aumento das pragas dessa cultura, com
elevação das perdas”, explica.
“O ciclo da melancia varia de dois
a três meses; assim, durante o período que não houver produção de
frutos, o agricultor terá renda extra com o cultivo da macaxeira, que
apresenta ciclo mais longo, de 12 a 24 meses”, complementa Dantas.
Os
trabalhos foram conduzidos no Campo Experimental Água Boa, em Boa Vista
(RR). Testaram-se diferentes arranjos espaciais e épocas de plantio da
cultivar de mandioca Aciolina em relação à semeadura da melancia,
cultivar Crimssom Sweet.
A cultura da macaxeira foi disposta
entre as plantas da melancia, mantendo espaçamento de quatro metros
entre linhas por um metro entre covas de macaxeira, com semeadura de
ambas as lavouras na mesma data.
Produtor satisfeito
Após observar os resultados
alcançados na área experimental da Embrapa, o produtor Elton da Silva
Dias, de Boa Vista (RR), iniciou, em 2016, o primeiro plantio de
melancia consorciada à mandioca. Com 20 hectares cultivados, o
agricultor está satisfeito com os números alcançados.
“Não
constatamos interferência na produtividade da melancia. Quanto à
macaxeira, vamos iniciar a colheita em breve, mas fizemos uma avaliação
da produção, em que coletamos e pesamos diversas plantas; isso nos
permitiu estimar com segurança uma produtividade acima de 25 toneladas
por hectare”, conta Dias.
Outras vantagens do consórcio
destacadas pelo produtor foram o sombreamento para o fruto da melancia, a
quebra do ciclo de pragas e, principalmente, a segurança financeira,
com a garantia de uma segunda receita através da macaxeira. “Posso dizer
que acabo tendo um seguro contra eventuais danos que possam ocorrer com
a melancia, cultura considerada de alto risco levando em conta as
chuvas e incidências de pragas e doenças, principalmente as viroses, que
chegam a causar grandes prejuízos.”
Nota
A cultura da melancia desperta interesse de produtores pela
facilidade de adaptação ao clima brasileiro, boa aceitação dos frutos no
mercado e rápido retorno econômico. Pertencente à família do melão,
abóbora e maxixe, a melancia se adapta melhor ao clima quente e seco. O
retorno financeiro vem em pouco tempo, já que a colheita do fruto ocorre
entre 60 e 75 dias após o plantio.
O IBGE registrou,
em 2012, 28 estados brasileiros produtores de melancia, sendo os
principais Rio Grande do Sul, Goiás, Bahia e São Paulo. As principais
cultivares utilizadas no mercado nacional são Crimson Sweet, Top Gun,
Santa Amélia e Verena.
Já a mandioca é cultivada em todas as
regiões do Brasil, tendo como maiores produtores os estados do Pará,
Paraná e Bahia, conforme dados de 2014 do IBGE. Seu cultivo desempenha
um papel importante tanto como fonte de alimento como geradora de
emprego e renda, principalmente nas regiões Nordeste e Norte.
A
mandioca pode ser classificada como de mesa (mansa) e de indústria
(brava). A primeira, conhecida também como aipim e macaxeira, é
utilizada para consumo fresco humano e animal; já a mandioca de
indústria é indicada para a produção de farinha e fécula.
Fonte: Embrapa Roraima